ROTA HISTÓRICA DAS LINHAS DE TORRES 



A Rota Histórica das Linhas de Torres (RHLT) é constituída por um conjunto de seis percursos de visita e estende-se entre o oceano Atlântico e o rio Tejo, atravessando o território de seis concelhos (Arruda dos Vinhos, Loures, Mafra, Sobral de Monte Agraço, Torres Vedras e Vila Franca de Xira).


Na proximidade de Lisboa, a RHLT integra um património militar de referência para a História da Europa. Os sítios e equipamentos que a constituem estão disponíveis ao visitante e contam a história da construção de um dos sistemas de defesa mais eficazes do mundo.


Frente às Linhas de Torres, Napoleão conheceu a sua primeira derrota, em 1810, que haveria de se tornar definitiva com a batalha de Waterloo, em 1815. Hoje, estes sítios transformaram-se numa importante rota turístico-cultural.



Prémios

A Rota Histórica das Linhas de Torres foi reconhecida, em 2011, pelo Turismo de Portugal com a atribuição do Prémio Requalificação Projeto Público porque (…) contribui para a valorização da oferta da região e para a requalificação do património monumental com a recuperação de fortificações militares assim como de diversos circuitos que possibilitam ao turista conhecer melhor a região. (…) destacou-se igualmente pela qualidade do acolhimento uma vez que o acompanhamento é feito por técnicos especialistas (…). Merece igualmente destaque o desenvolvimento de parcerias com os diferentes agentes económicos, locais e regionais, nomeadamente ao nível da restauração e hotelaria e ainda as parcerias com as Câmaras Municipais envolvidas. Este projeto constitui-se como um fator importante para o desenvolvimento económico de cada Município e da região (…). Frederico Costa, Presidente do Conselho Diretivo do Turismo de Portugal.


Também em 2011, o Centro de Interpretação das Linhas de Torres em Arruda dos Vinhos, situado no Centro Cultural do Morgado, recebeu uma Menção Honrosa para a melhor aplicação de gestão e multimédia, por parte da APOM – Associação Portuguesa de Museologia.


A Rota Histórica das Linhas de Torres foi um dos 17 projetos vencedores do prémio Europa Nostra 2014, na categoria “Conservação”. Este prémio constitui uma distinção atribuída pela União Europeia e pela Rede Europa Nostra, no que se refere à preservação e defesa do património cultural Europeu, que vem reconhecer todo o trabalho conjunto desenvolvido pelos Municípios de Arruda dos Vinhos, Loures, Mafra, Sobral de Monte Agraço, Torres Vedras e Vila Franca de Xira, no que concerne à salvaguarda e valorização do sistema defensivo conhecido por Linhas de Torres.


É membro da Federação Europeia das Cidades Napoleónicas desde 2018.






Invasões Francesas e as Linhas de Torres - Contexto Histórico

A 20 de outubro de 1809, após as duas primeiras Invasões Francesas a Portugal ordenadas pelo Imperador Francês Napoleão Bonaparte, o General Wellington, do Exército Inglês, ordenou a construção de linhas de defesa da cidade de Lisboa, com o objetivo de impedir uma 3.ª invasão.


Aproveitando os obstáculos naturais da região, foram construídos fortes, redutos e baterias, formando no conjunto as “Linhas de Torres”. Estas estruturas foram, na sua maioria, construídas em menos de um ano e em total segredo, perfazendo um total de 152 fortes ligados por estradas militares e dispostos ao longo de duas linhas de defesa, ligando o rio Tejo ao oceano Atlântico, que defendiam a península de Lisboa.


A construção das linhas foi supervisionada pelos Engenheiro Reais Britânicos, Royal Engineers, com o apoio de quatro oficiais portugueses de engenharia, 18 Royal Military Artífices, 150 soldados de linha e 4000 a 5000 trabalhadores locais, que eram deslocados das suas vilas e afazeres para zonas distantes, trabalhando em secretismo absoluto durante um ano, de outubro de 1809 a outubro de 1810.


O custo total das Linhas de Torres foi de cerca de 100.000 Libras, sendo considerado o sistema defensivo menos dispendioso de toda a história militar. Os fortes foram estudados e concebidos individualmente, adequados ao terreno onde estava projetada a sua construção, mas funcionavam em conjunto, formando uma linha de defesa intransponível.


A 10 de outubro de 1810, a Divisão Ligeira do exército inglês, sob o comando do General Craufurd chega à vila de Arruda, após a Batalha do Buçaco, a 27 de setembro de 1810, ocupando a vila e posicionando-se em frente às linhas de defesa.


No alto dos grandes “cabeços” montanhosos de Arruda situavam-se estrategicamente o Forte do Cego (Obra Militar n.º 9), o Forte da Carvalha (Obra Militar n.º 10) e o Forte do Passo (Obra Militar n.º 12), estando ocupados pelas forças anglo-portuguesas, apoiadas pela população local que se refugiou atrás das linhas.


O General Massena, do Exército Francês, posicionou-se com as suas tropas junto à entrada Norte da Vila, onde permaneceram cerca de um mês. Ao depararem-se com este estrondoso sistema de defesa, logo perceberam que seria impossível a sua transposição. Deste modo, a 9 de novembro ludibriaram o exército aliado, deixando bonecos de palha a ocupar as suas posições e bateram em retirada, em direção a Santarém, dando assim início ao fim da 3.ª Invasão.



A Vila de Arruda e as Invasões Francesas

Apesar da 1.ª Linha de Defesa de Lisboa cortar toda a Península de Torres Vedras, a frente francesa não atingia dois terços desta extensão, tendo as suas forças fraco campo de manobra. Situaram-se entre Vila Franca de Xira e a passagem de Runa. Todo o exército luso-britânico ficou recolhido nas Linhas, “com exceção da Divisão Ligeira e da Brigada de Pock, que, devendo entrar por Arruda, se demoraram em Alenquer e ali se deixaram surpreender pelas tropas de Montbrun, abandonando precipitadamente aquela vila, com a perda de bagagens e com bastantes feridos, dirigindo-se para o Sobral, tendo na noite de 11 para 12 realizado uma marcha de flanco, junto às Linhas, para ganhar Arruda, cujo vale, durante todo esse tempo, ficou perigosamente aberto ao inimigo.” (As famosas Linhas de Torres in A HORA)

Quando Montbrun avançava para as Linhas, havia um espaço de quase 50km, de Alhandra ao Sobral, sem um único defensor. Arruda encontrava-se totalmente sem forças de resistência. A este propósito escreveu o Capitão John Kincaid (1830) nas “Aventuras na Brigada da Espingarda” o seguinte:

«A nossa longa retirada terminou à meia-noite, com a chegada à pitoresca vila da Arruda, que estava destinada a ser o posto de piquete da nossa Divisão (Divisão Ligeira) defronte das Linhas fortificadas. Tal como todos os lugares da linha de marcha, encontrámo-la totalmente deserta, e os seus habitantes tinham fugido com tamanha pressa, que os únicos objectos que levaram consigo foram as chaves das portas das suas casas; de modo que, quando entrámos, utilizando a chave usual - disparando uma bala de espingarda através do buraco da fechadura: ela abre todas as fechaduras - ficámos agradavelmente surpresos, ao verificarmos que as casas estavam, não só perfeitamente mobiladas, como a maior parte delas tinham comida na despensa e uma abundante provisão de bons vinhos na adega; e que, efectivamente, elas só necessitavam de alguns hóspedes, capazes de apreciarem as coisas boas que os deuses haviam providenciado; e diabos me levassem, se não éramos nós próprios as pessoas capazes de o fazer!

Aqueles que desejam uma descrição das Linhas de Torres Vedras podem desistir. Eu de nada sei, excepto que me contaram que um dos seus limites se situava no Tejo e o outro algures, junto do mar; e vi com os meus próprios olhos uma variedade de redutos e fortificações nos vários montes que se erguem no meio. O que eu sei, no entanto, é que desde então, corremos com os franceses dos lugares mais formidáveis e mais resistentes; e, diga-se com o devido respeito, julgo que o Príncipe d'Essling deveria ter tentado a sua sorte contra as Linhas visto que ele só poderia ter sido derrotado, combatendo, tendo acabado por o ser, posteriormente, sem combate!

Em tempo muito quente ou muito húmido, era costume ficarmos abrigados na vila, durante o dia, mas voltávamos sempre ao nosso bivaque, nos montes, durante a noite. Vivíamos, efectivamente, na abundância, enquanto aqui permanecíamos; tudo o que víamos era nosso, visto que, aí, ninguém tinha pretensões mais legítimas; e cada campo era uma vinha.

Massena abandonou a sua posição, fronteira à nossa, na noite de 14 de Novembro, deixando algumas sentinelas, feitas de palha, a ocuparem os seus postos habituais; e, na neblina da manhã seguinte, pensámos tratar-se de reforços mais bem alimentados, vindos da retaguarda, e já o dia ia adiantado quando descobrimos o erro e avançámos na sua perseguição.» (CMTV, 2001: 37)

A Vila ficou totalmente desprotegida, a norte das Linhas, e quando o Marechal Massena, “depois de ter chegado diante das Linhas, mandou efetuar os primeiros reconhecimentos, com alguma esperança de que elas pudessem ser vulneráveis pelos vales de Calhandriz e de Arruda - onde sempre estacionou um posto de Cavalaria ligando os 2.º e 3.º Corpos -, de facto as mais suscetíveis de ser transpostas ou tornear a posição de Alhandra” (As famosas Linhas de Torres in A HORA).

Mas sobre estes vales (Calhandriz e Arruda) estavam os redutos, e todos eles estavam cortados com defesas ciclópicas, enormes abatizes de carvalhos e castanheiros arrancados da terra todos inteiros, com as suas enormes raízes, transportados com esforços sobre-humanos.


No entanto, no dia 16 de outubro de 1810, Massena decidiu fazer o reconhecimento às linhas inimigas subindo o Sobral pela estrada da Zebreira, estendeu os olhos pela vastidão das obras, compreendendo o que as mesmas valiam. “Seria, pois, uma loucura temerária o ataque a quem se encontrava tão formidavelmente defendido, com tão grande moral e propósito firme de não se deixar vencer” (As famosas Linhas de Torres in A HORA).

Foi então que “deixou num muro, a pequena distância, o seu óculo de campanha. Nisto, de uma bateria de qualquer dos redutos aliados, manifestamente disparado na direção do grupo, caiu uma granada que bateu no referido muro, a poucos passos onde se encontrava o mencionado óculo do célebre marechal de Napoleão. Compreendendo este o claro aviso de retirar-se, tirando chapéu, cortêsmente saudou o inimigo e, implicitamente, a própria formidável linha de redutos, que, pela voz potente da sua artilharia, também acabara de o cumprimentar, ainda que de forma um pouco brusca…” Apesar da Vila se encontrar desprotegida, “o vale de Arruda estava maravilhosamente defendido” (As famosas Linhas de Torres in A HORA).

Durante 4 semanas esteve a cavalaria do Corpo do Exército de Ney em Arruda. “Pela sua posição especial, esta povoação esteve sempre, mais ou menos, ocupada pela cavalaria inimiga” (As famosas Linhas de Torres in A HORA). As tropas “acoitaram-se em adegas da região, saqueando a vila, destruindo arquivos, profanando a igreja, roubando dali muitas alfaias, ficando famoso o roubo do trono de prata da Padroeira, Senhora da Salvação” (Rogeiro, 1997:28).

“Só algumas horas depois do nascimento do Sol [no dia 15 de novembro de 1810] a atmosfera limpou, e então se verificou que os Franceses haviam abandonado as suas posições, como se disse, numa habilidosa manobra, a que o próprio Wellington fez inteira justiça” (As famosas Linhas de Torres in A HORA).

O General Wellington foi o responsável pela construção das Linhas de Torres que deram origem a um dos mais notáveis acontecimentos militares de todos os tempos. A 1.ª Linha de Defesa, onde se incluem as fortificações de Arruda (Cego, Carvalha e Passo) foi a linha defensiva de toda a Península de Torres Vedras e totalmente intransponível, pelo que a Vila de Arruda, situada a norte das Linhas, sofreu a política da terra queimada, os arrudenses deixaram as suas casas e enterraram os seus haveres, em defesa da capital e do país.

Foi no nosso concelho, e nos concelhos que participaram na construção destas Linhas, que Napoleão I se deparou com uma viragem na sua carreira vitoriosa. Foi uma viragem que consagrou “a nossa integridade como país livre” (As famosas Linhas de Torres in A HORA).



Curiosidades

  • A população enterrou alguns bens antes de abandonar a Vila, assim como procedeu à terra queimada, abdicando dos seus campos cultivados, com o objectivo de não abastecer as tropas inimigas.
  • Foi publicado, em 1811, a “Relação da Victoria que alcançarão os Hespanhoes, e Portuguezes juntamente no Combate de Badajoz, e outros na Covilhã, Alpedrinha, e Arruda”.
  • Foi realizado, em 1811, o “Sermão de Acção de Graças pela feliz Restauração de Portugal recitado na Paroquial Igreja de N. Senhora da Salvação da Villa d’Arruda”.
  • Existe um livro de registo de contratos de expropriação de terrenos para construção da Linha de Torres Vedras (1885) do Fundo da Administração do Concelho de Arruda dos Vinhos, no Arquivo Municipal de Sobral de Monte Agraço.
  • A ausência de documentação, no Arquivo Municipal de Arruda dos Vinhos, anterior a 1811 decorre provavelmente da circunstância das tropas napoleónicas terem destruído os arquivos da Vila quando a ocuparam.
  • Devido à política de terra queimada cerca de 50 000 portugueses morreram à fome.



Coleção de Fontes Locais das Linhas de Torres Vedras (1807-1814)

A RHLT disponibiliza on-line a Coleção de Fontes Locais das Linhas de Torres Vedras, constituída por 928 registos correspondentes a 42000 imagens de documentos sobre a Guerra Peninsular e as Linhas de Torres Vedras.

Esta coleção foi constituída para promover o acesso, estudo e divulgação associada ao património das Linhas de Torres, e teve o apoio Fundação Calouste Gulbenkian que financiou todo o levantamento documental, registo e decrição em base de dados, digitalização e controlo de qualidade e a disponibilização on-line.

O projeto foi desenvolvido pelo Arquivo Municipal de Mafra e foram parceiros os Arquivos Municipais de Arruda dos Vinhos, Sobral de Monte Agraço, Torres Vedras e Vila Franca de Xira, bem com a, então, Direcção Geral de Arquivos/Arquivo Nacional Torre do Tombo.





exposição "Arruda na rota das linhas de Torres"



Documentos Relacionados

Arruda dos Vinhos na Rota Histórica das Linhas de Torres
Rota Histórica das Linhas de Torres - Circuito de Arruda dos Vinhos
Folheto Rota Histórica das Linhas de Torres - Arruda dos Vinhos - PT
Folheto - No coração das Linhas de Torres
Flyer RHLT - Arruda dos Vinhos - EN

Print Friendly and PDF

Contatos

Largo Miguel Bombarda
2630-112 Arruda dos Vinhos

263 977 000

Back to Top

  •   Menu acessível
  • Promotor Oeste Portugal
  •   Oeste CIM
  • Co-financiamento Compete
  •   QREN
  •   União Europeia
Powered by Powered by U-LINK
© 2006 - 2024 © Município de Arruda dos Vinhos - Todos os Direitos Reservados